A cultura de violência no Brasil tem raízes históricas num
processo de desenvolvimento de nação excludente, desigual, altamente explorador e marcado por um Estado ausente que só aparece para promover a repressão. Nesse caldo, tem-se um sistema penal
ineficiente, onde se prende muito mal e é incapaz de ressocializar eficazmente ou
punir de forma justa.
Num cenário tão complexo, não se pode combater a
violência com medidas paliativas ou soluções midiáticas, como faz agora parte
dos deputados federais ao admitir a constitucionalidade da PEC 171/93.
A pauta da Câmara dos Deputados tem sido movida nos últimos
dias pela agenda da segurança pública. Mas a regra é apenas aumentar penas,
como se fosse a salvação para o combate à violência no Brasil. Atitudes
demagogas e soluções inócuas que não atingem as causas.
O sistema penitenciário brasileiro prende muito mas prende
mal. O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo. Há mais de 570
mil presos e quase a metade deles ainda não foi a julgamento, aponta o
Departamento Penitenciário Nacional. Quantos ali estão presos inocentes ?
Ninguém se preocupa.
Além disso, pende-se “ladrão de galinha” e permite-se que os
criminosos mais perigosos circulem livremente. Algumas pesquisas indicam que somente
8% dos homicídios são solucionados no país. E sabem quem é o alvo principal das
mais de 50 mil mortes por ano? Mais de metade é de jovens e 77% são negros,
conforme indica levantamento da Anistia Internacional. E pode-se ir além.
Quando soltos, 70% dos presos reincidem no crime, conforme explicou o então
ministro do STF, Cesar Peluzo.
Oras, temos um quadro onde não funciona adequadamente o
tripé prevenção, repressão e punição. Assassinos estão nas ruas e há presos,
muitos sem julgamento, ou sem cumprir penas alternativas, em cadeias sem
condição alguma de ressocialização. Há
um problema grave, estrutural, mas os parlamentares acreditam que resolverão ou aumentando penas ou reduzindo a maioridade penal, colocando um
adolescente de 16 anos, que rouba um pacote de bolacha, por exemplo, ao lado do
presos adultos, como quer a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos
Deputados.
Mas e os jovens assassinos cruéis, questionarão alguns. Eles
fazem parte da exceção. A Unicef aponta que dos 21 milhões de adolescentes no
Brasil, somente 0,013% cometeu atos contra a vida. Não se pode criar regras
para todos com base em exceções.
Ninguém quer ver jovens no mundo do crime ou nas ruas após
cometerem alguma infração. Para isso, a legislação brasileira já prevê seis
medidas socioeducativas para infratores desde os 12 anos. Ou seja, qualquer
criança com essa idade terá a punição adequada ao seu grau de desenvolvimento.
Enfim, a situação de violência existente não se findará
enquanto parlamentares procurarem bodes expiatórios e não atacarem a raiz dos problemas que geram e perpetuam a violência. Dezenas de instituições
nacionais e internacionais são contra a redução da maioridade penal por
acreditar que elas não resolvem um problema, apenas cria outro. Assim também
acredito e devemos nos mobilizar contra este retrocesso.
Texto e foto: Leandro de Jesus