Cada dia fica mais nítido que as Revoltas (em massa) de Junho não passaram de uma moda, muito breve, por sinal. Espero, porém, estar completamente equivocado nessa avaliação.
Foto: Rodrigo Gonçalvez

Os motivos que levaram as pessoas às ruas ainda dividem opiniões, mas talvez as revoltas daquele período abasteceram o fetiche daqueles jovens que nunca tiveram disposição de ir às ruas e foram encorajados pelo show midiático no qual os atos transformaram-se. Por falar em fetiche, as manifestações, inclusive, foram rapidamente incorporadas pelo capital, que não perde oportunidade e começou a produzir kits-manifestantes com vendas de bandeiras do Brasil ou de máscaras de Guy Fawkes (anarquista católico?) a R$ 80,00, por exemplo. Afinal, o espetáculo tem que ter adereços (símbolos).
O que de fato resultou daquele histórico mês, no entanto? O movimento horizontal, chamados pelos mais diversos grupos e interesses, com pautas diversas, sem liderança e sem coesão não obteve ganhos concretos. Conseguiu vitórias quem sempre foi coeso e sempre esteve nas ruas. Até o momento, a única pauta vencedora, digamos assim, foi a redução de tarifas no transporte, pleiteada há muitos anos pelo Movimento Passe Livre em todo o país. Pauta de quem sempre esteve acordado. É possível colocar ainda nesta conta os recursos do petróleo para a saúde e a educação, proposta há anos levada pelo movimento estudantil e que até então era rejeitada pelo governo federal. A PEC37, também aprovada, é bom dizer que não foi um clamor popular mas uma pauta plantada no movimento pela mídia grande.
É inegável que elas saíram vencedoras somente após ter o apoio das massas mas também é de se notar que nenhuma outra pauta vinda dessa multidão foi efetivamente colocada em prática pelos políticos. A pauta vencedora foi aquela em que manifestantes, se chamados a negociar, tinham condições de debater e exigir, já que havia uma produção de conteúdo sobre o tema. E as outras centenas de pautas? Somente o oba-oba levaria a nada.
Na ocasião, de que adiantaria invadir o Ministério das Relações Exteriores ou o Congresso Nacional, como se tentou? Não havia objetivo definido ou questões a serem reivindicadas. Ocupariam até a queda do Henrique Alves ou Renan Calheiros? Nada disso foi apresentado.
As massas foram o estopim das vitórias mas sem a existência do movimento de vanguarda, coeso na divergência, e capaz de liderar e apresentar reivindicações, não haveria sucesso. Um depende do outro mas essa equação de soma é tão complexa que ambos se afastaram novamente desde então. Lutas por direitos não faltam. Contudo, resta-nos saber agora quando ambos serão capazes de se fazer entender novamente e voltarão a cruzar os mesmos caminhos.
Por Leandro de Jesus
1 comentários:
É necessário se ter objetivo, sem isso, não há manifestação que resulte em algo positivo.
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