Por Eduardo Lyra*
A) Traficante do bairro (detalhe, traficante ou avião de 12 a 15 anos)
B) Meu amigo de escola.
C) Meu irmão
D) Meu padrasto.
E) Meu pai.
Mas isso não é tudo. Encontrei um menino morador de favela cheio de talento, que já foi convidado para executar um roubo grande. Ele disse: “Me convidaram pra fazer uma fita que ia dar muito dinheiro, mas eu recusei”.
No fim, pedi para mais de duzentos alunos falarem, um por um, a seguinte frase no microfone: “Eu prometo que nunca vou usar droga e nunca vou desistir dos meus sonhos”. Queria muito gerar um comprometimento com eles.
Um garoto me chamou muita atenção, pois ele disse: “Edu, não vou prometer isso, cara. Primeiro porque não tenho sonhos. E segundo, porque eu quero usar drogas. Não vou prometer o que não posso cumprir”.
Tanto eu como professores fomos ao choro. É uma criança, que ainda tem marca de urina na cueca, sonhando em ser traficante.
É triste como o tráfico chega à vida de tantos adolescentes, muitos antes que qualquer oportunidade de crescimento. E chega para gerar destruição, morte, revolta e miséria. Enquanto isso, o Brasil assiste passivamente um conglomerado de quadrilhas alojadas na Câmara e no Senado que estão “cagando” para a classe pobre, para os jovens brasileiros, que não tem acesso à cultura e à oportunidades reais.
É gente que discute desigualdade social na teoria mas nunca coloram o pé numa favela, nunca foram ver de perto a seca do Nordeste. É gente pequena, que tem pavor de pobre e trabalha pelo beneficio próprio.
O tráfico avança e coloca nossas crianças como escravas. E enquanto isso, uma elite brasileira brega, montada no dinheiro, assiste o pior acontecer com um discurso mentiroso de que o Brasil é o país do presente, das grandes oportunidades. Oportunidade??? Mas em plena era da globalização tem família que divide para seis pessoas uma única escova de dente.
Não consigo entender porque as pessoas que realmente poderiam mudar este país estão presas no seu mundinho pequeno, de egoísmo, de preconceito. Toda vez que eu vejo um moleque ferrado na periferia, visitando o pai na cadeia, sendo vítima do sistema, eu penso que poderia ser eu! Aliás, era eu há pouco tempo atrás.
Faça algo. Mova-se. Deixe um mundo melhor para seus filhos. Miséria, daqui uns vinte anos, deveria ser encontrada apenas no museu! E preconceito, só no dicionário!
E Amor, Generosidade, Comprometimento, Parceria, no dia a dia das pessoas!
*Jornalista e palestrante, é autor de Jovens Falcões.
Nota: Em pleno calor da discussão sobre a redução da maioridade penal, esse é um ótimo relato sobre a realidades das periferias. Não se pode culpabilizar somente os jovens quando o Estado não lhes dá oportunidades. Como pedir para eles sonharem se sequer eles tem o direito de sonhar,