No apagar das luzes de 2011, a Câmara Municipal de Poá aprovou uma Lei que, na prática, pode destituir os conselheiros e membros do Fundo Municipal de Habitação (FMHIS) de suas funções. A Lei, proposta pela Prefeitura, não foi levada a consulta e os conselheiros só tomaram ciência nesta sexta-feira (03), quase dois meses depois.

A nova Lei, n 3.552/2011, contudo, estabelece a Política Municipal de Habitação, cria o Fundo de Habitação e o Conselho Gestor. A Secretaria de Habitação havia informado aos conselheiros que o departamento jurídico estava estudando alterações na lei, mas em momento algum passou-lhes os detalhes do novo texto. Cabe salientar que os conselheiros são legalmente responsáveis por participar da elaboração, fiscalização, gestão, propor e deliberar sobre normas, regulamentos e programas habitacionais do município. Dessa forma, era obrigação da prefeitura consultá-los, mas de forma anti-democrática, ignorou-os completamente nessa produção.
Uma perda significativa na nova legislação é a ausência de percentual mínimo de investimento no setor. Na lei anterior, previa-se que fosse destinado anualmente 2% do orçamento ao fundo. De fato, esse artigo nunca foi cumprido pela prefeitura. Em 2011, estima-se que mais de R$ 6 milhões de reais deixaram de ser investidos em programas habitacionais por causa da recusa do executivo em repassar a verba regulamentada.
Segundo o Secretário de Habitação, Saul Souza, a nova lei objetiva apenas uniformizar o texto legal às exigências do Ministério das Cidades. A aprovação, sem consulta aos conselheiros, deveu-se ao fato da cobrança da Caixa Econômica Federal para que ela fosse adequada às normas federais.
Isso, porém, não justifica omitir o texto dos conselheiros. A nova lei sequer teve demora para ser elaborada, pois é cópia integral do modelo disponibilizado pelo Ministério das Cidades. Além disso, ela não prevê uma transição de conselhos ou mesmo a forma de substituição do presidente do fundo.
Dessa forma, entrou-se num impasse no qual os conselheiros não tem certeza se estão legais ou não no exercícios de suas funções, diante da revogação completa da lei anterior. Há membros que alegam haver a necessidade de realização de uma nova Conferência Municipal e outros entendem que o mandato para o qual foram eleitos deve ser cumprido de forma integral, até julho de 2012. Esta tese é a mesma entendida por um especialista, consultado pelo Blog de Poá. Na próxima sexta-feira, dia 10, os conselheiros voltarão a se reunir para discutir a questão.
Por fim, discutir a política habitacional sem consultar os conselheiros, democraticamente eleitos, é um erro gravíssimo, ainda que os membros não sejam destituídos neste momento. Um governo, que se diz popular, não se deve furtar ao debate. Publicar uma lei, numa sessão extraordinária, a última do ano, sem qualquer opinião, contrária ou favorável, demonstra a falta de compromissão da prefeitura em discutir de forma elevada a política habitacional do município. Os vereadores também são da mesma forma responsáveis. Aprovaram um texto sem qualquer discussão pública. É um desserviço.
Por Leandro de Jesus
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